No próximo dia 11 de Fevereiro, estamos convocados para decidir sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Esta questão, apesar de simples na sua essência, tem sido por várias vezes distorcida, pelas forças “pró-não”, convergindo a discussão para reflexões sobre o direito à vida, sua origem e limites. Essa abordagem apenas serve para confundir a opinião pública, mistificando um direito que assiste a qualquer mulher, pondo de lado, a verdadeira razão para este referendo, a protecção da Mulher, poupando-lhe a condenação e exposição pública das suas opções individuais.
A lei actual, cruel e desumana, empurra a Mulher, para a realização do aborto clandestino, sob condições degradantes, provocando-lhes graves consequências físicas e emocionais. Quer se concorde com o aborto ou não, ele continuará a realizar-se. Está nas nossas mãos, decidir se de forma ilegal, criminalizando e perseguindo as mulheres que o façam ou dignificando esse acto de forma consciente e responsável, concedendo de forma igualitária e justa a oportunidade de cada mulher decidir o seu futuro.
12 comentários:
«Não existe nenhuma boa razão prática que justifique a supressão de um ser humano, mesmo nos primeiros estádios da sua evolução. Sei que em nenhum outro fenómeno da existência se encontra uma tão furiosa, total e essencial vontade de vida como no feto. A sua vontade de actualizar a potencialidade que é, percorrendo com uma rapidez fulminante a história do género humano, tem qualquer coisa de irresistível e por isso de absoluto e jubilatório. Mesmo se é um imbecil que vai nascer.»
«Os partidários extremistas do aborto (quer dizer, quase todos os intelectuais «esclarecidos» e as feministas) falam deste como de uma tragédia feminina, na qual a mulher está sozinha com o seu terrível problema, como se, nesse momento, todo o mundo a tivesse abandonado. Compreendo. Mas poderia acrescentar que, quando a mulher estava na cama, não estava sozinha. Por outro lado, pergunto-me como é que os extremistas recusam a retórica especiosa da «maternidade» com uma repulsa tão ostentatória, quando aceitam de forma totalmente acrítica a retórica apocalíptica do aborto.»
Pier Paolo Pasolini, intelectual italiano do PCI, Escritos Corsários.
Vou votar Não conscientemente. Porque o que se está em causa é muito mais do que a mera descriminalização da mulher que aborta. Quanto a este ponto, até posso estar de acordo.
O problema são as consequências jurídicas do desvalor vida, ocultas na perguntinha. E isto é gravíssimo. É um retrocesso civilizacional e ético, bem ao sabor burguês dos tempo.
O voto Sim liberaliza uma conduta que, a meu ver, atenta contra a vida e dignidade humanas - no caso concreto, subtrai qualquer direito fundamental a um feto com 2 meses e meio, que já tem todo o código genético e muitas funções biológicas de uma pessoa (para não falar de braços e pernas, de um coração a bater autónomo da mãe, de dedinhos nas mãos e nos pés). A questão não é, portanto, "já que se faz, que se faça em condições". Há muita coisa que não deixa de existir por ser punida por lei, mas nem por isso se descriminaliza. Não se combate uma coisa liberalizando-a.
Além disso, à Esquerda compete transformar a realidade, não conformar-se com ela.
Um abraço, Rogério.
CC
Gostei do texto do CC (de Sintra?). Mas tenho de votar sim... apesar de tudo.
Luís Martins
"Estamos convocados a decidir" é, quanto a mim, a expressão que melhor ilustra o dever que temos como Homens e Mulheres conscientes do futuro, como cidadãos responsáveis e até como Animadores, de ir às urnas no próximo dia 11 de Fevereiro expressar o nosso dever e/ou direiro, independentemenete do voto recair no sim ou no não (essa decisão é de cada um para consigo mesmo).
A este propósito, li num jornal distribuído gratuitamente em alguns concelhos do país, o Destak, um comentário/opinião no qual o autor afirmava a necessidade de não abortarmos o referendo ao aborto, deixando essa decisão apenas para "os outros". E essa afirmação assentava no prossusposto de uma democracia que, sendo governada por elementos representativos, poucas vezes nos chama a participar nas decisões importantes para o país. Os outros somos todos nós.
Sem quaisquer receios de afirma-lo, voto Sim.
Sou pela vida com amor, sou pela vida com consciência e com condições socio-económicas dignas para crescer, para aprender, para viver, para Ser.
E, como todos sabemos, mesmo que o não à alteração da lei da penalização do aborto vença, os abortos vão continuar a existir pois quando uma mulher toma essa decisão fará tudo para levá-la a cabo. Mesmo.
0 meu sim vai particularmente para as mulheres com os menores recursos económicos que anualmente trazem milhares de crianças não planeadas ao mundo perpetuando os ciclos de pobreza em que se encontram. Porque as que podem economicamente, fazem-no tanto como as que têm menos recursos, só que as primeiras fazem-no em condiçoes dignas para a sua saúde minimizando os graves riscos a que o aborto em más condições sujeita qualquer mulher que decida leva-lo a cabo. E é sobre essa dignidade que estamos chamados a pronunciar-nos.
Mais educação sexual, tanto nas escolas como para adultos, mais prevenção, mais poder de decisão, mais apoio e acompanhamente é a única via para que a necessidade de recorrer ao aborto seja uma alternativa a que só se recorre em casos extremos.
Sim, porque nínguem o faz só porque sim.
Sim, porque nenhuma mundança no mundo ocorreu sem que houvesse muma ruptura com as normas do passado.
Sim, porque o direito da mulher, e dos casais à vida com amor e dignidade, é mais um passo no caminho da nossa Liberdade.
E tenho dito.
Marta Borges
31.01.07
Sim, de Sintra.
Tens de votar sim? Então porquê? Onde moras o voto não é livre? :)
Amigo CC
Antes de mais, é um prazer saber que estás por aí.
Esta questão do aborto é extremamente delicada, pelo menos para mim - que até sou pai de duas meninas. Voto sim porque me parece a melhor opção e não porque algum partido político determinou isso.
Aparece quando quiseres.Um abraço.
L Martins
Apesar de tudo o mundo consegue ainda ser maior do que nós pensamos e as diferenças também. Respeitamos todos as ideias uns dos outros, mas não poderemos deixar de pensar quantas mulheres morrem todos os anos por aquelas cabeças duras que temos no cimo do cume que ensistem em querer decidir tudo por nós. A mulher e o Homem têm todo o direito de decidir quais as suas preferências. Portugal consegue ser o mais atrasado em tudo, mas incoscientemente pensa que está a evoluir, os nossos paises irmãos todos legalizam este acto, só nos achamos que queremos preservar algo que está a matar-nos. Evoluir não significa apenas subir, ou colmatar a economia mas transgredir dificuldades, tanto a nivel cultural como social.
Ponham os neurónios a trabalharem e pensem que o SIM é a nossa melhor opção.
Tânia Balola
Olá a todos
Olá AMIGO CC, bem vindo a este espaço, espero que o visites assiduamente. Sou como tu, pelo direito à vida, pela individualidade, pelo pensamento livre. Sabes bem, que neste referendo, não estão em causa lutas politicas, apenas e simplesmente, as nossas consciências. Ao contrário, do que referes, não penso que a interrupção voluntária da gravidez seja um retrocesso civilizacional e ético, com nuances burguesas, parece-me antes a apropriação e tomada de responsabilidade por parte da sociedade, da defesa dos mais fracos e oprimidos,dos menos representados e indigentes.
O que está em causa neste referendo é a democratização de acesso à decisão individual, dolorosa e cruel, de interromper voluntariamente uma gravidez.
Não concordo com essa interrupção, ninguém concorda. Ninguém o faz de ânimo leve. Sabes bem, que não é essa a questão.
Vamos fazer um pequeno exercicio de futurologia, o que acontecerá se o Não vencer? - Terminar-se-ão num simples estalar de dedos os abortos? O que mudará? Os fetos que no teu texto referenciaste irão sobreviver?
Claro que sabes que nada mudará, os abortos continuarão, clandestinos, camuflando-se histórias de morte e sofrimento, onde as personagens principais serão mulheres desgostosas, fragilizadas fisica e emocionalmente.
Continuarão igualmente, os abortos não clandestinos, fruto de viagens a Espanha, para aí,em condições excepcionais consumar o acto.
Continuarão as criminalizações e perseguições a mulheres de parcos recursos;
E se o Sim vencer, o que pensas que acontecerá?
Abraço amigo CC
Olá Rogério,
Olá Luís.
Se o Sim vencer aumentará exponencialmente o nº de abortos, como aconteceu em toda a Europa nos primeiros 10 anos da liberalização (entre 4 vezes, como na Grécia a mais de 10 vezes, como em Espanha - dados Eurostat), fruto da banalização do aborto como meio contraceptivo, encorajado por um Estado que não tem meios de prover aos abortos no seu Serviço Nacional de Saúde.
As mulheres serão encaminhadas para as clínicas privadas instaladas em Portugal. As do teu Alentejo continuarão a ir a Espanha porque será mais barato, como vão agora para ter os filhos, visto que as maternidades estão a fechar (e também os seus serviços de obstetrícia e ginecologia).
Se o Sim vencer, continuarão a haver abortos clandestinos, porque feitos depois das arbitrárias 10 semanas ou em local "não aurorizado" e ninguém perseguirá as mulheres, como acontece agora. A lei continuará a não ser cumprida, porque é absurda. Isto é, quem fizer um aborto a um filho com 12, 16, ou 20 semanas não será "perseguida" (como não são agora: isso fica bem para slogans, mas não é verdade), ao contrário do que prevê a lei que tu vais aprovar. E nem sequer essa conduta (em abstracto, uma barbárie) será tida como censurável.
Se o Sim vencer vão ser mortas mais vidas humanas em potência, sem que a mulher tenha de invocar qualquer justificação ou fundamento para tal. Apenas, por exemplo, porque não lhe dá jeito ter naquele momento o filho que gerou.
O Estado desresponsabiliza-se (da educação sexual, do planeamento familiar, do seu papel social), a sociedade desresponsabiliza-se e atiram-se pela janela direitos fundamentais, como o direito a nascer, do qual decorrem todos os outros. E o valor da vida entra no mercado global.
Se o Sim vencer (como irá acontecer), os portugueses "conscientes" pensarão que matar um feto (são esses os mais fracos e indefesos desta relação, Rogério, não é a mulher) é uma coisa normal, quando se esquecem de tomar a pílula ou comprar preservativos. E far-se-ão mais abortos "de ânimo leve", porque nem sequer será ilegal fazê-lo. Será moderno, limpo e seguro. Para todos, menos para a "coisa humana", como lhe chamou a Lídia Jorge, que será extraída para sempre do ventre da mãe, numa gravidez que não é "interrompida", mas terminada.
Como frangos de capoeira, os portugueses tornar-se-ão ainda mais uns burgueses tontos, imbuídos de um espírito mercantilista para o qual a vida tem um valor de mercado e cede perante valores burgueses como o dinheiro, o comodismo e o individualismo egoísta. É mais uma vitória de uma ideologia neo-liberal que está no poder no Ocidente (sabias que os sandinistas na Nicarágua, assim que reassumiram o poder, em 2006, voltaram a penalizar o aborto? E que isso era mesmo uma promessa eleitoral?).
Se o Sim ganhar, é mais uma vitória da comunicação social que nivela por baixo a exigência de um espírito maior e culto, em prol do lucro das audiências e do consumo. É a vitória do pragmatismo sobre os valores e a sacralidade da vida.
E, de resto, tudo continuará na mesma.
Abraços sinceros.
CC
Em relação a este tema....todos nós sabemos que podíamos encher esta página com comentários.....Mas o que eu quero aqui deixar bem claro e fazer pensar as pessoas é o seguinte: todos nós temos consciência que há muitas instituições que acolhem crianças e são instituições em que infelizmente os apoios são míseros...Agora eu pergunto: PORQUÊ TANTA CAMPANHA?PORQUÊ TANTO DINHEIRO GASTO EM PUBLICIDADE?
Outra coisa: o voto é fundamental, seja contra ou a favor!VOTEM!
Marta Duarte
oLÁ AMIGOS,
Olá CC, mais tarde farei um comentário em relação ao teu último post, AQUELE ABRAÇO.
Por agora, deixo algumas reflexões do Prof.Alexandre Quintanilha, Director do Instituto de Biologia Molecular e Celular do Porto, no programa Grande Entrevista, tendo por pano de fundo a interrupção voluntária da gravidez, onde esclarece e clarifica alguns argumentos até aqui utilizados pelos movimentos "Pró-Não", nomeadamente as fases de desenvolvimento dos embriões, declarando que nem a Ciência,nem a Religião têm respostas claras para o debate, situando-o no plano das convicções. Aqui fica a transcrição, que nos sirva de reflexão profunda, de forma a perceber quem realmente está em causa.
«Assumindo-se pelo voto Sim no referendo de 11 de Fevereiro, o cientis ta esclareceu que preferia arranjar soluções para não haver aborto mas considera inconcebível criminalizar as mulheres que o praticam, numa decisão que é sempre e de grande sofrimento pessoal.
Ninguém quer o aborto. Eu não sou a favor do aborto mas contra a crimi nalização, respondeu a Judite de Sousa, clarificando a sua posição.
Em defesa da descriminalização, Alexandre Quintanilha rejeitou argumentos radicais contrários, evocando que não passaria pela cabeça de ninguém conden ar uma mulher que praticou um aborto por homicídio premeditado, a que correspond e na Lei portuguesa 25 anos de cadeia.
Por isso é que a lei considera que uma pessoa não é a mesma coisa do que um embrião, salientou.
Para o cientista, há uma evolução da complexidade do ser desde a primei ra célula que aparece como embrião e muitas dúvidas sobre o momento decisivo par a a formação da pessoa.
A primeira célula que aparece como embrião é o resultado de duas células e obviamente que essas duas células são vivas e são humanas: a que vem do pai e a que vem da mãe. Não há vida humana partindo de qualquer coisa que não é vida e que não é humana, disse.
Quanto ao período das 10 semanas, comentou que é por essa altura que co meçam a aparecer os indícios de reacções neuronais e que o embrião ainda está mu ito longe de ter muitos dos processos complexos de desenvolvimento.
Durante muito tempo, dizia-se que a diferença entre o Homem e os animais era a capacidade de pensar, de raciocinar, de escolher. Isso nunca acontece!dentro do útero e às 10 semanas estamos ainda muito seguros em relação a uma séri e de coisas que os embriões ainda não atingiram, declarou.
Alexandre Quintanilha recusou que a Ciência e a Religião rivalizem num debate que se tende a radicalizar sobre o tema.
Tenho medo das certezas e, neste debate, nem a Ciência, nem a Religião , trazem respostas claras.
Na Ciência, onde é que se decide qual é a altura? O aparecimento de um a ser que parte de um ovo envolve um aumento enorme da complexidade dos sistemas que se estão a formar. Qual é o momento? É quando aparece a dor, os primeiros m ecanismos neuronais a funcionar? As primeiras hormonas a serem produzidas? Eu não sei!, respondeu peremptório.
No campo da Religião, Alexandre Quintanilha socorreu-se de São Tomás de Aquino e de Santo Agostinho para recordar que também eles falavam dos mecanism os da introdução da alma, da humanização do feto, questionando quando é que tal acontece.
Tem muito a ver com convicções e bom senso e com a noção de saúde pública, concluiu.»
graça diz:
o dia 11 está a chegar,e penso que existem ainda muitas mentes turvas, que dizem que "nenhum outro fenómeno da existência se encontra uma tão furiosa, total e essencial vontade de vida como no feto", pois eu acredito que uma uma criança no mundo essa sim tem uma enorme vontade de viver e ser feliz, mas muitas vezes passa fome, sofre agressoes, abusos, nao tem quem as ame, quem lhes passe a mao pelo rosto e milhares, eu digo milhares passam uma vida em instituiçoes a espera de saber o que é realmente a vida.
Emfim, para muitos e mais bonito dizer que e muito moralista
eu prefiro ser frontal e lutar pela verdadeira felicidade de um ser
voto sim
É tão fácil insultar, não é?
O Pasolini é uma mente turva? E o Einstein um atrasado mental, não?
E isto, o que é? http://www.abortionno.org/Resources/AbortionPictures/11_weeks-04.jpg
Enviar um comentário