sexta-feira, agosto 03, 2007

Reflexão ANIMA 2007 (3ª Parte)


Na 3ª parte da reflexão em torno da participação no ANIMA 2007, apraz-me destacar a experiência de Palomares del Rio (Sevilha). Este projecto desenvolvido pela UNILCO (Universidad Colectiva para la Construccion Libre) em parceria com o Ayuntamiento de Palomares del Rio pretendeu criar a partir da participação colectiva, um conjunto de dinâmicas locais que assumissem a construção e crescimento de uma pequena comunidade. Este processo de cidadania, activa e dinâmica, do Povo para o Povo, envolveu os indivíduos dando-lhes a oportunidade de construírem colectivamente, novas estruturas, focalizando recursos e vontades, não se cingindo apenas a sua participação às eleições, substituindo os postulados da democracia representativa por mecanismos assentes na democracia participada, implicando os cidadãos nas decisões a tomar, numa lógica permanente e contínua, que não se esgota num único acto público.
Para se compreender a essência do “Palomo” ( assim ficou conhecido popularmente o processo) é necessário contextualizar a sua origem. Este processo é implementado a partir da necessidade de se definir o PGOU ( Plano Geral de Ordenamento Urbanístico) e Plano Estratégico, o primeiro assumindo estratégias em relação ao território, o segundo, uma visão global da comunidade, tendo em atenção aspectos como o emprego, a cultura, a educação, etc.,
Estes planos estratégicos constituíam a essência do “Palomo”, definindo-se neles as estratégias a assumir em Palomares de Rio nos 20 anos seguintes. Essa tarefa não seria exclusiva do arquitecto, das orientações políticas locais, dos interesses imobiliários, das associações, mas também resultado da intervenção directa da população. Nesse sentido, propunha-se a criação de uma base alargada onde a comunidade pudesse preconizar os mecanismos necessários à mudança.
A partir daqui implementaram-se um conjunto de acções, que visaram numa 1ª fase, o contacto com as populações, anonimamente, através de panfletos e cartazes colados nas ruas, os quais suscitaram inúmeras reacções por parte da comunidade. Foi o inicio de um caminho mais democrático, justo e igualitário que continuou com contactos de rua, reuniões, grupos de trabalho, oficinas temáticas e inclusive a realização de uma telenovela, acções que envolveram os habitantes de Palomares del Rio como nunca até aí tinha acontecido.
Através do presente processo de intervenção, devolveu-se a palavra aos diversos grupos comunitários, os quais sistematizaram e ordenaram as propostas, de maneira a discutirem e negociarem a sua incorporação nos Planos Estratégicos Locais, reflectindo a preocupação, vontade e direito de contribuir para o seu bem-estar e crescimento colectivo.
Sabemos o quão difícil é desenvolver um projecto desta dimensão e com estas características. Por um lado, as dificuldades em estabelecer parcerias com as entidades políticas, mais preocupadas em não perderem o poder de controlo e influência nas dinâmicas locais, do que motivadas em encetarem uma intervenção de forma a promover a participação das populações. Por outro lado, as pressões dos grupos económicos (imobiliárias, construção civil), para os quais a comunidade se resume a uma única ideia, lucro, lucro e mais lucro.
No combate contra as dificuldades, a palavra ao povo.

…“No mundo de hoje não interessa que as pessoas pensem de maneira crítica. Graças ao PALOMO, aprendemos a ver as coisas desde outras perspectivas, construímos e voltámos a construir pensámos por nós próprios e pouco a pouco vamos perdendo o medo de dize-lo em público…” [1]




[1] Montse López y Begoña Lourenço, vecinas de Palomares del Rio, UNILCO, Mayo 2007

Sem comentários: