sábado, março 08, 2008

Dia Internacional da Mulher

O Dia Internacional da Mulher teve a sua origem na luta das operárias norte-americanas das fábricas de vestuário e indústria têxtil, pela conquista de melhores condições de trabalho, melhores salários, mais dignidade. Do seu protesto nasceu uma semente de vontade, coragem e solidariedade que percorreu um século. O que se celebra hoje deve ser entendido como o reforço dessa luta inicial, mesmo porque algumas das razões que levaram essas trabalhadoras a exigir e reivindicar direitos se mantêm infelizmente, actuais. Num contexto de viragem social onde se implementam gravosas medidas neo-liberais que pretendem desregulamentar os direitos laborais de todos os trabalhadores, parece-me importante celebrar com mais afinco e determinação este dia. Não só pelos direitos laborais, mas por um conjunto de problemas sociais que atingem diariamente a Mulher, no contexto familiar, e nos inúmeros papéis que é convocada a desempenhar. A fragilidade que lhe é conferida pela sociedade machista que temos, tem consequências cruéis e assustadoras, na forma como são levianamente empurradas para funções secundárias, nos maus-tratos e violência sexual e doméstica, enfim na desigualdade e exclusão pelo facto de ser Mulher. Num país com tantos problemas, em que só há pouco tempo se despenalizou o aborto, lei que oprimiu milhares e milhares de mulheres, o caminho é longo na resolução de tantas outras questões. Reflectir sobre os seus problemas diários, de forma efectiva, justa e solidária, será o primeiro passo para que um dia se deixe de comemorar o Dia da Mulher. Porque Mulher é-se todos os dias. E homem também….


I

Um ente de paixão e sacrifício,
De sofrimento cheio, eis a mulher!
Esmaga o coração dentro do peito,
E nem te doas coração, sequer!

Sê forte, corajoso, não fraquejes
Na luta: sê em Vénus sempre Marte;
Sempre o mundo é vil e infame e os homens
Se te sentem gemer hão-de pisar-te!

Se à vezes tu fraquejas, pobrezinho,
Essa brancura ideal de puro arminho
Eles deixam pra sempre maculada;

E gritam então vis: "Olhem, vejam
É aquela a infame!" e apedrejam
a pobrezita, a triste, a desgraçada!


II

Ó Mulher! Como é fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!

Quantas morrem saudosas duma imagem
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente!

Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doces almas de dor e sofrimento!

Paixão que faria a felicidade
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!

A Mulher, Florbela Espanca

Sem comentários: