No âmbito da violência doméstica, verifica-se que algumas vítimas que já romperam a relação com o agressor manifestam uma nostalgia pela relação, acabando por reter e sobrevalorizar os momentos de intimidade, que eram caracterizados por uma proximidade em que não havia limites entre elas e o agressor.
A tónica da relação era pautada por uma continuidade, complementariedade com o outro, em que um se fundia no outro e esta fusão assumia o lugar de casulo, de refúgio.
Porém, o que pode parecer uma visão romântica e idílica, transporta-nos para a incompletude do eu, tanto da vítima como do agressor, já que ambos precisam um do outro para existirem, para se equilibrarem.
Ao explorarmos a história familiar da vítima e agressor, percebemos que ambos não sentiram as suas necessidades emocionais satisfeitas, pelo que tendem a suprimi-las através de outra pessoa.
Contudo, a este nível, a vítima e o agressor encontram-se em pólos opostos, mas na mesma recta, ou seja, ambos padecem de uma baixa auto-estima, mas manifestam-na de formas diametralmente opostas. Enquanto que a vítima assume uma postura submissa, em que acaba por se anular, cedendo às exigências do agressor, este exerce sobre ela uma relação de controle e poder, em que a vítima funciona como a garantia das suas necessidades, não sendo vista como pessoa.
Não obstante, a violência que existe nestas relações, nos momentos de proximidade, alguns agressores são extremamente envolventes e sedutores, pelo que quando se dá a separação, apesar do sentimento de alívio e de libertação que a vítima experiencia, ressente-se da entrega, da forma como, nesses momentos, se sentia única, especial e completa, protegida no seu casulo. Mas é um casulo assombrado, preenchido por fantasmas interiores, por marcas de desamor, que a vão sugando em nome da esperança de mudança.
Vemos também, que muitas vítimas, após a separação, mostram dificuldade em frequentar espaços sociais, especialmente se o fazem sozinhas, pois parecem associar o estar só ao estar sem, sem alguém, sem amor, sem referências, sem sentimento de pertença, sem identidade. Referem que têm vergonha, mal estar, embaraço, sentimento de desadequação, não suportando o olhar dos outros, no qual projectam o seu sentimento de desvalorização, de abandono.
Contudo, são elas que protagonizam o maior dos abandonos, o abandono de si, ao percepcionarem o outro como fonte de alimento da sua auto-estima, o que as coloca em posição de grande risco e vulnerabilidade, atendendo às relações de dependência que tendem a estabelecer, que parecem decorrer do seu baixo auto-conceito, pois vêem-se como seres imperfeitos e inacabados, necessitando do olhar do outro para combater o esvaziamento do seu eu.
Isto remete-nos para a falta de bases e de alicerces que tiveram, o que desemboca num padrão relacional, em que há uma procura incessante de amor para que o equilíbrio seja reposto, que se traduz na compulsão para a repetição que caracteriza o universo relacional destas vítimas.
Porém, a vítima só pode crescer e reparar os seus traumas mediante uma aceitação da sua história, exorcizando as suas feridas numa relação empática e que lhe dê segurança, ao invés de persistir no ciclo de repetição, que perpetua relações destrutivas que confirmam o sentimento e a percepção desvalorizada de si. Este cenário tende a manter-se enquanto a vítima procurar no outro o antídoto para os seus males, o amor é um mal, quando nele pensamos ver a nossa cura.
A Equipa do Projecto Bem Me Quero
Parceiros do Projecto:
SEIES - Sociedade de Estudos e Intervenção em Engenharia Social (entidade promotora e executora); APAV; Câmara Municipal de Setúbal; ISS; REAPN; UMAR.
Contactos:
Morada: R. Gil Vicente, Nº8, 2910-088 Setúbal
Telef: 265 547 840 961036725
Fax: 265 547 849
E-mail: contacto@bemmequero.org
Site: http://www.bemmequero.org/
A tónica da relação era pautada por uma continuidade, complementariedade com o outro, em que um se fundia no outro e esta fusão assumia o lugar de casulo, de refúgio.
Porém, o que pode parecer uma visão romântica e idílica, transporta-nos para a incompletude do eu, tanto da vítima como do agressor, já que ambos precisam um do outro para existirem, para se equilibrarem.
Ao explorarmos a história familiar da vítima e agressor, percebemos que ambos não sentiram as suas necessidades emocionais satisfeitas, pelo que tendem a suprimi-las através de outra pessoa.
Contudo, a este nível, a vítima e o agressor encontram-se em pólos opostos, mas na mesma recta, ou seja, ambos padecem de uma baixa auto-estima, mas manifestam-na de formas diametralmente opostas. Enquanto que a vítima assume uma postura submissa, em que acaba por se anular, cedendo às exigências do agressor, este exerce sobre ela uma relação de controle e poder, em que a vítima funciona como a garantia das suas necessidades, não sendo vista como pessoa.
Não obstante, a violência que existe nestas relações, nos momentos de proximidade, alguns agressores são extremamente envolventes e sedutores, pelo que quando se dá a separação, apesar do sentimento de alívio e de libertação que a vítima experiencia, ressente-se da entrega, da forma como, nesses momentos, se sentia única, especial e completa, protegida no seu casulo. Mas é um casulo assombrado, preenchido por fantasmas interiores, por marcas de desamor, que a vão sugando em nome da esperança de mudança.
Vemos também, que muitas vítimas, após a separação, mostram dificuldade em frequentar espaços sociais, especialmente se o fazem sozinhas, pois parecem associar o estar só ao estar sem, sem alguém, sem amor, sem referências, sem sentimento de pertença, sem identidade. Referem que têm vergonha, mal estar, embaraço, sentimento de desadequação, não suportando o olhar dos outros, no qual projectam o seu sentimento de desvalorização, de abandono.
Contudo, são elas que protagonizam o maior dos abandonos, o abandono de si, ao percepcionarem o outro como fonte de alimento da sua auto-estima, o que as coloca em posição de grande risco e vulnerabilidade, atendendo às relações de dependência que tendem a estabelecer, que parecem decorrer do seu baixo auto-conceito, pois vêem-se como seres imperfeitos e inacabados, necessitando do olhar do outro para combater o esvaziamento do seu eu.
Isto remete-nos para a falta de bases e de alicerces que tiveram, o que desemboca num padrão relacional, em que há uma procura incessante de amor para que o equilíbrio seja reposto, que se traduz na compulsão para a repetição que caracteriza o universo relacional destas vítimas.
Porém, a vítima só pode crescer e reparar os seus traumas mediante uma aceitação da sua história, exorcizando as suas feridas numa relação empática e que lhe dê segurança, ao invés de persistir no ciclo de repetição, que perpetua relações destrutivas que confirmam o sentimento e a percepção desvalorizada de si. Este cenário tende a manter-se enquanto a vítima procurar no outro o antídoto para os seus males, o amor é um mal, quando nele pensamos ver a nossa cura.
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