«Depois do 25 de Abril todos sentimos necessidade de saber ler e escrever, tínhamos que defender os nossos direitos». A nova realidade pressupunha novas formas de agir. «O meu patrão tinha uma carta que queria que eu assinasse, para não ter que fazer descontos para a caixa». Para que os direitos fossem defendidos era preciso ler e escrever.
O primeiro contacto com as letras foi no centro de trabalho do PCP «foi lá que fiz as primeiras letras de forma». Durante dois invernos para além das letras aprendeu ainda, contas de somar, dividir, subtrair e multiplicar. «Quem nos ensinava era uma camarada que tinha andado na escola e que se disponibilizou para ajudar».
Em 82 entrou pela primeira vez na escola. Iniciou a educação básica primária adulta, com mais 12 alunos, todos com idades semelhantes. «Lembro-me que mesmo depois de um dia de trabalho no duro tinha muita vontade de lá estar». As aulas eram dadas numa sala do “antigo ciclo” «onde o que melhor me recordo é do quadro, grande e negro onde fiz letras e das letras, frases». Entre as 21:00 e as 24:00 faziam cópias, escreviam redacções, liam textos, questionavam-se. Durante quatro anos aplicou-se e no final passou no exame conseguindo o diploma de ensino primário «só dois conseguiram, dos outros, uns desistiram ou terminaram mais tarde». À pergunta se valeu a pena, a resposta é esclarecedora «claro que sim, depois do 25 de Abril havia muita gente que queria aprender, precisávamos muito» e continua «tinha uma pena de não perceber os papéis, o tempo foi muito bem empregue».
Em suma, todo o esforço e sacrifício é pequeno quando se quer atingir algo bem grande, «a coisa mais bonita é saber ler e escrever».
A minha aprendizagem das letras foi em simultâneo com o meu pai. Não compreendia as razões, mas também pouco interessavam, apenas sabia que ao final de cada noite, o esperava para folhear os livros e almanaques que transportava na pequena sacola.
Da memória desses tempos ficam algumas imagens. Finalizo com uma delas. Lembro-me de participar com o meu pai na leitura dos jornais. Na carvoaria da vila reuniam-se homens e mulheres, para ouvirem a leitura explicada das notícias e acontecimentos do país e do mundo. Nenhum sabia ler nem escrever. Com o passar do tempo, o espaço inicial para a escuta transformou-se num amplo espaço de debate e discussão, encontro de várias leituras. Não esquecerei os seus olhares de conquista.
O percurso do meu pai, como de tantos outros conciliou as dificuldades da vida e a necessidade intrínseca dos indivíduos se completarem e crescerem. Os processos de alfabetização representaram nesse particular, o meio a partir do qual se garantiu o exercício pleno de cidadania e o compromisso pelos valores democráticos. Foi bem mais que aprender a ler e escrever, foi consciencializar os indivíduos para a participação activa na construção de uma nova sociedade.
O primeiro contacto com as letras foi no centro de trabalho do PCP «foi lá que fiz as primeiras letras de forma». Durante dois invernos para além das letras aprendeu ainda, contas de somar, dividir, subtrair e multiplicar. «Quem nos ensinava era uma camarada que tinha andado na escola e que se disponibilizou para ajudar».
Em 82 entrou pela primeira vez na escola. Iniciou a educação básica primária adulta, com mais 12 alunos, todos com idades semelhantes. «Lembro-me que mesmo depois de um dia de trabalho no duro tinha muita vontade de lá estar». As aulas eram dadas numa sala do “antigo ciclo” «onde o que melhor me recordo é do quadro, grande e negro onde fiz letras e das letras, frases». Entre as 21:00 e as 24:00 faziam cópias, escreviam redacções, liam textos, questionavam-se. Durante quatro anos aplicou-se e no final passou no exame conseguindo o diploma de ensino primário «só dois conseguiram, dos outros, uns desistiram ou terminaram mais tarde». À pergunta se valeu a pena, a resposta é esclarecedora «claro que sim, depois do 25 de Abril havia muita gente que queria aprender, precisávamos muito» e continua «tinha uma pena de não perceber os papéis, o tempo foi muito bem empregue».
Em suma, todo o esforço e sacrifício é pequeno quando se quer atingir algo bem grande, «a coisa mais bonita é saber ler e escrever».
A minha aprendizagem das letras foi em simultâneo com o meu pai. Não compreendia as razões, mas também pouco interessavam, apenas sabia que ao final de cada noite, o esperava para folhear os livros e almanaques que transportava na pequena sacola.
Da memória desses tempos ficam algumas imagens. Finalizo com uma delas. Lembro-me de participar com o meu pai na leitura dos jornais. Na carvoaria da vila reuniam-se homens e mulheres, para ouvirem a leitura explicada das notícias e acontecimentos do país e do mundo. Nenhum sabia ler nem escrever. Com o passar do tempo, o espaço inicial para a escuta transformou-se num amplo espaço de debate e discussão, encontro de várias leituras. Não esquecerei os seus olhares de conquista.
O percurso do meu pai, como de tantos outros conciliou as dificuldades da vida e a necessidade intrínseca dos indivíduos se completarem e crescerem. Os processos de alfabetização representaram nesse particular, o meio a partir do qual se garantiu o exercício pleno de cidadania e o compromisso pelos valores democráticos. Foi bem mais que aprender a ler e escrever, foi consciencializar os indivíduos para a participação activa na construção de uma nova sociedade.
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