segunda-feira, abril 23, 2007

O Poeta da Revolução

“José Carlos Ary dos Santos, irreverente e arrebatador, espalhou pelos caminhos das aldeias, vilas e cidades de Portugal, a poesia que apaixonado escreveu. Poesia sobre o amor, a ternura, mas também o trabalho, a injustiça, a fome e do seu desejo que a vida dos homens fosse melhor”. Dos seus poemas nasceram algumas das melhores canções populares que marcaram uma era, especialmente no pós 25 de Abril. Contribuiu sobremaneira para a renovação da música ligeira portuguesa. Rubricou letras para grandes vozes de sempre como Fernando Tordo, Simone de Oliveira, Carlos do Carmo, entre outros.

As Portas que Abril abriu

«Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
(...)
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempo do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
(...)
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
(...)
Foi esta força viril
de antes de quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.»

in SANTOS, Ary dos.- As Portas que Abril Abriu. Lisboa, 1975.

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