A palavra lançada junto dos amigos, acompanhando um copo de vinho, e um pouco de pão, ilustra-nos o lento passar do tempo, daqueles que viveram durante décadas um dos mais negros períodos da nossa história. O 25 de Abril visto sob os olhos atentos, críticos e emocionados de um poeta popular, Sebastião Perdigão, natural de Borba, trabalhador rural com o dom da PALAVRA.
Mote
Tantos anos de ditadura
Para chegar a liberdade
Ninguém fazia figura
Hoje tudo fala à vontade
I
O que o meu corpo penou
Ainda hoje estou lembrado
Andei roto e esfarrapado
Tanta fome se passou
O Governo o seu nome deixou
Para ir até à censura
Só miséria, não fartura
Nesses campos sem abrigo
Tenho recordação para comigo
Tantos anos de ditadura
II
Não houve sangue em Portugal
Quando surgiu a guerra em Espanha
Mas a miséria era tanta
Toda a gente passava mal
Foi a Nação em geral
Até aqueles de pouca idade
Nunca houve igualdade
Até que o golpe se deu
Tanto que o pobre sofreu
Até que chegou a liberdade
III
Foi uma vida sempre escura
Trabalho mal pago
Mas tinha de andar calado
Senão era posto na rua
Punha-se o sol, nascia a lua
Vivendo sempre na amargura
Essa era a maior penúria
Mas cá em cima da terra
Vivendo sempre na miséria
Ninguém fazia figura
IV
Andava um pobrezinho
Pelos montes a pedir
Sem ter onde dormir
Cheio de fome coitadinho
Penava por esse caminho
Até ao monte de qualquer herdade
Ninguém tinha piedade
Do pobre tanto sofrer
Assim penava até morrer
Hoje tudo fala à vontade
Por: Sebastião Perdigão
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