Aos 5 anos de idade o trabalho no campo tomou-lhe a escola. «O meu primeiro trabalho foi guardar galinhas na almeada da moinha [fardos], ganhava apenas a comida e vinha dormir todos os dias a casa. Infelizmente, este foi o meu tempo de escola, a vida era difícil e desde pequeno tive que trabalhar».
“No dia em que saber ler e escrever lhes seja tão útil como saber governar o arado, plantar feijões, ou até jogar o pau, nesse dia as escolas, as mais anti-higiénicas e lôbregas escolas de Portugal abarrotarão de estudantes” (Mónica, 1978,p113) [1]
O contexto difícil condicionava a ida à escola. A necessidade de ganhar o pão era mais forte que as letras. O saber ler e escrever não era problema. Afinal para que servia ter esse conhecimento, se no trabalho no campo, nas herdades junto com os Ganhões, não o utilizavam, «não precisávamos de ler e escrever para guardar os bacurinhos». «Vivia nas herdades onde fazia todos os tipos de trabalho, raro era o camarada que sabia ler e escrever».
Os anos e as dificuldades da vida foram-se ultrapassando à base de sacrifício e luta. As mudanças iam chegando a pouco e pouco. Para começar a passagem de Moral de Parelhas (mulas) para cabouqueiro. Por volta de 1962 veio trabalhar para as pedreiras. «Estavam a mexer bem, era um trabalho difícil, mas ganhava mais.» Aos quilómetros de bicicleta que tinha que fazer, cerca de 40 diários, juntava-se-lhe a vontade de contribuir para uma mudança que se adivinhava.
Já a viver em Borba vê raiar a esperança e a liberdade com o 25 de Abril de 1974.
“Já nasceu a liberdade,
A ditadura acabou,
Tanto ouro que cá deixou,
Eu com tanta necessidade,
Hoje fala tudo à vontade,
Não há respeito no Estado,
Já se encontra sepultado,
Tantos anos que governou,
Tantas recordações cá deixou,
Em mil novecentos e 74”. [2]
«Soubemos depois da hora de almoço, disseram-nos que tinha acontecido um golpe de estado» .A alegria do momento fê-lo juntar-se às dezenas de homens e mulheres que percorriam as ruas de Borba. «Arrancámos placas e até os fascistas usaram cravo, logo aí se puseram nos sítios certos».
“Afirma-se, de forma veemente, que os cidadãos da nova sociedade inaugurada pela revolução necessitam de possuir competências mínimas ao nível da leitura, da escrita e do cálculo para poderem intervir de forma consciente e activa na vida democrática. Nesse contexto, viram a luz do dia acções de natureza e origem diversas (movimento associativo estudantil, organizações partidárias, Movimento das Forças Armadas, grupos católicos, organizações populares, etc.)” [3]
A construção da nova sociedade far-se-á com o combate ao analfabetismo, luta para a qual se convocaram grupos de cidadãos que “libertarão” o povo do silêncio e ignorância.
[1] Mónica, Maria Filomena (1978). Educação e Sociedade no Portugal de Salazar. Lisboa: Editorial Presença, pp. 109-128
[2] Perdigão, Sebastião (1998) Poeta Popular de Borba in Artistas da Nossa Terra (Recolha de Poesia Popular), Centro Cultural de Borba
[3] Mogarro, M.J. & Pintassilgo, J. (2009). Educação, cidadania e alfabetização em contexto revolucionário (Portugal 1974-76)
“No dia em que saber ler e escrever lhes seja tão útil como saber governar o arado, plantar feijões, ou até jogar o pau, nesse dia as escolas, as mais anti-higiénicas e lôbregas escolas de Portugal abarrotarão de estudantes” (Mónica, 1978,p113) [1]
O contexto difícil condicionava a ida à escola. A necessidade de ganhar o pão era mais forte que as letras. O saber ler e escrever não era problema. Afinal para que servia ter esse conhecimento, se no trabalho no campo, nas herdades junto com os Ganhões, não o utilizavam, «não precisávamos de ler e escrever para guardar os bacurinhos». «Vivia nas herdades onde fazia todos os tipos de trabalho, raro era o camarada que sabia ler e escrever».
Os anos e as dificuldades da vida foram-se ultrapassando à base de sacrifício e luta. As mudanças iam chegando a pouco e pouco. Para começar a passagem de Moral de Parelhas (mulas) para cabouqueiro. Por volta de 1962 veio trabalhar para as pedreiras. «Estavam a mexer bem, era um trabalho difícil, mas ganhava mais.» Aos quilómetros de bicicleta que tinha que fazer, cerca de 40 diários, juntava-se-lhe a vontade de contribuir para uma mudança que se adivinhava.
Já a viver em Borba vê raiar a esperança e a liberdade com o 25 de Abril de 1974.
“Já nasceu a liberdade,
A ditadura acabou,
Tanto ouro que cá deixou,
Eu com tanta necessidade,
Hoje fala tudo à vontade,
Não há respeito no Estado,
Já se encontra sepultado,
Tantos anos que governou,
Tantas recordações cá deixou,
Em mil novecentos e 74”. [2]
«Soubemos depois da hora de almoço, disseram-nos que tinha acontecido um golpe de estado» .A alegria do momento fê-lo juntar-se às dezenas de homens e mulheres que percorriam as ruas de Borba. «Arrancámos placas e até os fascistas usaram cravo, logo aí se puseram nos sítios certos».
“Afirma-se, de forma veemente, que os cidadãos da nova sociedade inaugurada pela revolução necessitam de possuir competências mínimas ao nível da leitura, da escrita e do cálculo para poderem intervir de forma consciente e activa na vida democrática. Nesse contexto, viram a luz do dia acções de natureza e origem diversas (movimento associativo estudantil, organizações partidárias, Movimento das Forças Armadas, grupos católicos, organizações populares, etc.)” [3]
A construção da nova sociedade far-se-á com o combate ao analfabetismo, luta para a qual se convocaram grupos de cidadãos que “libertarão” o povo do silêncio e ignorância.
[1] Mónica, Maria Filomena (1978). Educação e Sociedade no Portugal de Salazar. Lisboa: Editorial Presença, pp. 109-128
[2] Perdigão, Sebastião (1998) Poeta Popular de Borba in Artistas da Nossa Terra (Recolha de Poesia Popular), Centro Cultural de Borba
[3] Mogarro, M.J. & Pintassilgo, J. (2009). Educação, cidadania e alfabetização em contexto revolucionário (Portugal 1974-76)
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